Mobilidade urbana compartilhada ajuda na retomada verde

A paralisação das atividades na pandemia dá ao mundo a oportunidade única de ter um transporte mais sustentável

A retomada verde virou o meio pra fazer do limão uma limonada. Em meio a crises econômicas causadas pela pandemia, muitos países já desenham planos mais sustentáveis pra volta de suas atividades. No Brasil, uma retomada desse tipo significaria R$ 2,8 trilhões a mais no PIB e a geração de dois milhões de empregos, segundo o Instituto WRI Brasil. E a mobilidade tem papel central pra alcançar essa meta.

O transporte representa 23% das emissões globais de gases de efeito estufa atualmente e por cerca da metade das emissões globais de óxidos de nitrogênio, que causam a poluição do ar. Essas emissões estão concentradas nas cidades — respondem por dois terços da demanda mundial de energia e 70% das emissões globais de carbono. Mas isso pode ser positivo. A alta densidade de instalações e infraestrutura das cidades também significam mais oportunidades pra inovar e explorar sinergias entre setores por um sistema mais eficiente.

Nessa transição, os transportes compartilhados exercem papel fundamental. Segundo um relatório da OCDE, a mobilidade compartilhada em massa reduziria em 55% o número de quilômetros de trânsito nas horas de pico nas cidades. E as emissões de CO2 cairiam em 62%. A conclusão do órgão é que serviços como de táxis compartilhados incentivam a integração dos meios de transporte, potencializando as redes públicas e dando acesso mais fácil e igualitário pelos centros urbanos.

Com a pandemia, algumas cidades já tem investido na integração de transportes e adoção de estratégias mais sustentáveis. Em Berlim, as ciclovias melhoraram o acesso a hospitais e aliviaram o congestionamento. Outras, como Montreal, São Francisco e Viena, estão desenvolvendo “ruas lentas” pra pedestres e ciclistas, reduzindo os limites de velocidade pra automóveis. E se depender do público essas mudanças não serão momentâneas. Uma pesquisa da consultoria Oliver Wyman apontou que 45% veem estruturas ecologicamente corretas como um dos três principais serviços que as cidades devem oferecer pós-Covid. E mais de um terço dos entrevistados que se mudaram durante a pandemia citaram o acesso a uma boa qualidade do ar e a espaços verdes como fatores por trás de suas mudanças.

Outras alternativas também são viáveis — e necessárias — pra reduzir o acúmulo de carbono na atmosfera. Por exemplo, a adoção de biocombustíveis em vez dos combustíveis fósseis — um mercado que o Brasil pode sair na frente. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), a produção de biocombustíveis, como álcool e biodiesel, deve aumentar 25% até 2024, em especial devido ao Brasil, EUA e China.

No entanto, é quase que consenso entre especialistas que pra controlar o aquecimento global a longo prazo os meios de transporte precisam ser eventualmente eletrificados. Segundo um estudo da Navigant, se todas as áreas urbanas eletrificassem seus transportes públicos e privados, contribuiriam com 28% para a meta do Acordo de Paris de só delimitar o aumento da temperatura global em 1,5 °C até 2050. Ainda tem potencial de reduzir em 34% as emissões de carbono. A Europa, por exemplo, já aprovou um plano de retomada que prevê mais de € 500 bilhões em projetos verdes, que inclui investimentos em carros elétricos.

Os resultados são visíveis nas cidades que estão mais à frente nessa transição. A qualidade do ar em Helsinque, Zurique e Estocolmo está entre as melhores na Europa. E ainda contam com baixos níveis de poluição sonora. Veículos elétricos em Estocolmo, por exemplo, são 13% do mercado — o segundo maior na Europa atrás das cidades norueguesas de Oslo e Bergen. A capital da Suécia ainda tem um sistema de preços em áreas de mais congestionamento, que reduz as emissões de carbono

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