Pesquisa mostra que população quer menos carros e mais serviços compartilhados
Segundo dados do Datafolha em seis capitais, apesar da pandemia, o futuro do transporte está na multimodalidade

A mobilidade urbana faz parte do dia a dia de qualquer um. Não só afeta o ir e vir, mas também o lazer e até a saúde. E 47% da população de grandes capitais brasileiras não está contente com o que tem visto, segundo pesquisa Datafolha encomendada pela 99. A mobilidade da cidade do Rio de Janeiro é a pior dentre as avaliadas — 57% disseram ser ruim ou péssimo. No total, 62% dos moradores de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador se mostraram preocupados com o trânsito no pós-pandemia e pra maioria o carro particular é o vilão. O futuro, pra eles é simples: 86% defendem que o uso de transporte coletivo ou compartilhado deveria ser incentivado.
A mudança na mobilidade é questão de sobrevivência. Em 2030, a ONU estima que as megacidades (aquelas com pelo menos 10 milhões de residentes) terão mais de 750 milhões de habitantes, um aumento de 35% em relação a hoje. Uma pesquisa do Boston Consulting Group (BCG) mostra que pra alcançar o sucesso duradouro, as cidades devem priorizar soluções que proporcionem maior produtividade, independência e sustentabilidade. Os consumidores procuram uma mobilidade que permita realizar várias tarefas ao longo de suas viagens; independência de horários, pra que possam viajar quando quiserem; e soluções ambientalmente sustentáveis. A pesquisa da Datafolha vai na mesma direção: 79% apontam que o transporte combinado, com o uso de dois ou mais meios de transporte, pode ser uma solução vantajosa para se locomover. Outros 73% afirmam que a utilização de carro por aplicativo colabora com a fluidez do trânsito. Belo Horizonte foi que a mais se mostrou otimista com esse papel dos aplicativos.
Chamado de mobilidade como serviço (MaaS), os apps de veículos compartilhados, sejam carros ou micromobilidade, como bicicletas e patinetes, ajudam a acelerar o abandono de veículos pessoais, aproveitando a infraestrutura já existente. Especialistas calculam que um carro compartilhado substitui de 4 a 13 veículos pessoais que, de outra forma, ficam estacionados ociosamente 95% do tempo. Assim, ao integrar a mobilidade compartilhada e o transporte público, os gestores podem reconstruir a confiança na rede, fornecendo mais informações sobre os modais, e alinhar seus orçamentos de forma mais eficiente.
Com o perfil atual das cidades já é possível aplicar mudanças. Segundo um estudo do banco Barclays, nas grandes capitais do mundo, inclusive nas do Brasil, cerca de 60% de todos os deslocamentos são de até oito quilômetros — distância que pode ser feita de bicicleta ou a pé, por exemplo. Mas, claro, que a infraestrutura tem que ir sendo adaptada pra comportar não só mais pessoas, mas também diferentes meios de transporte, do carro ao pedestre. Segundo o Institute for Transportation and Development Policy (ITDP), integrar atividades e serviços ajudam a tornar as ruas ativas em vários períodos do dia e da noite, transformando o uso do espaço público.
Esse estratégia tem se popularizado pra um cenário pós-pandemia. Fortaleza já é líder em acessibilidade à infraestrutura cicloviária no Brasil, segundo o ITDP. E com a pandemia, investiu cerca de R$ 9 milhões, somente neste ano, pra avançar ainda mais esse modal. Ainda cidades como Barcelona, Detroit, Londres, Milão e Melbourne são só algumas que têm adotado o conceito de Cidade de 15 minutos. Popularizada pela prefeita de Paris, o plano prevê oferecer serviços e oportunidades a um raio de 15 minutos de deslocamento.