Afogados da Ingazeira (PE) ilustra desafios das cidades pequenas

Praças nos bairros, ciclovias e acessibilidade para enfrentar vias saturadas de veículos que realizam trajetos intermunicipais

Por Anderson Santana*

O rápido crescimento das cidades intensificou desafios de mobilidade nos grandes e pequenos centros do Brasil: problemas de trânsito, acidentes em vias públicas, insegurança nas ruas, dificuldades de locomoção entre bairros. Somado a isso, as regiões interioranas ainda precisam lidar com transtornos antigos: ruas sem pavimentação, falta de acessibilidade das calçadas, ausência de transporte público e sinalização precária. 

Segundo o IBGE, 84% da população brasileira vive em áreas urbanas, sendo que mais de 32,1 milhões de pessoas residem nos 68,4% municípios com até 20 mil habitantes. De acordo com o Ministério das Cidades, apenas 6% deles contam com Plano de Mobilidade Urbana (Lei 12.587/2012, obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes). 

Foto: Anderson Santana

Em Afogados da Ingazeira, cidade com 37 mil habitantes no Sertão de Pernambuco, agricultura, pecuária e comércio são as principais atividades econômicas. Nos últimos oito anos, as ruas ficaram pequenas para o trânsito, especialmente na região comercial. As vias são disputadas entre caminhões de carga e descarga, motos, carros de passeio e cerca de 200 vans diárias que fazem o transporte intermunicipal de pessoas que vêm ao município realizar consultas médicas, fazer compras ou trabalhar. Bicicletas e pedestres compartilham o espaço com os transportes de tração animal. 

O Plano de Mobilidade ainda está em discussão, mas soluções já estão sendo adotadas para enfrentar os desafios. O Detran e a Prefeitura instalaram semáforos nas vias de maior movimento. Também são realizadas campanhas de conscientização. “Precisamos sempre fazer um trabalho educativo, de orientação. É preciso ter espaço para veículos e pessoas”, enfatiza o coordenador do Detran no município, Heleno Mariano. 

Foto: Anderson Santana

O prefeito e presidente da Associação Municipalista de Pernambuco, José Patriota, lembra que falta municipalizar o trânsito e criar autarquia: “Já existe um projeto realizado por especialistas, nosso entrave está nos recursos, pois precisamos contratar equipe e pagá-la”. Enquanto isso, outras ações são realizadas. Recentemente foi construído um novo Centro de Comercialização de animais, realocando para fora da área central o fluxo de pessoas e caminhões (carregados de bois, vacas, ovelhas, bodes, cavalos etc), que causava muitos transtornos.

Marília Acioly, arquiteta e urbanista, explica que Afogados da Ingazeira vem crescendo muito e atraindo investidores e que por isso, para cada novo equipamento que a cidade ganha, são exigidos mais estacionamentos, áreas de carga e descarga e acessibilidade. Outra medida é a revitalização de praças nos bairros, para descentralizar as atividades de lazer e reconduzir pessoas e veículos a pontos pulverizados pela cidade. “Executamos projetos nos bairros que oferecem mais espaços de convivência, através de ciclofaixas, pista de cooper, piso tátil, calçadas sem desnível. Pessoas que precisavam vir para o centro praticar suas atividades físicas não têm mais essa necessidade, pois já contam com esses equipamentos nos seus bairros”, finaliza.

Foto: Anderson Santana

A população reconhece outras melhorias na mobilidade urbana. “As ruas asfaltadas e iluminadas com LED facilitam o deslocamento e oferecem mais segurança quando venho caminhando do trabalho à noite”, relata a empregada doméstica Carla Patrício, 28. Mais de 120 ruas foram pavimentadas recentemente graças à Usina de Asfalto criada pela Prefeitura, que por fabricar a matéria-prima conseguiu reduzir em 50% o custo das pavimentações. Todas as vias receberam sinalização vertical e horizontal, faixa de pedestres, acessibilidade e iluminação, de acordo com Libni Angelim, engenheiro civil do município. 

Uma obra que está em fase de conclusão para desafogar o trânsito é o Pátio de Feiras Livres, que irá descentralizar o comércio e oferecer qualidade na mobilidade. “Para o futuro, temos um projeto elaborado de um Terminal Receptivo de Veículos que realizam o transporte intermunicipal, para evitar aglomeração em vários pontos da cidade. Estamos esperando recursos para tirar do papel”, relata o gestor de Afogados da Ingazeira. O exemplo de Afogados da Ingazeira, através da articulação e parcerias com diversos setores e entidades, comprova que é possível driblar os desafios econômicos e encontrar soluções viáveis a curto prazo para melhorar a mobilidade urbana.

*Anderson Santana foi um dos participantes do Lab 99 + Folha de Jornalismo 2020, oficina online para jovens jornalistas que selecionou 30 nomes entre candidatos de todo o País para receber mentoria dos jornalistas da Folha de S. Paulo, participar de imersão com especialistas e produzir especial da Folha sobre mobilidade urbana.

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