Para Onde Vamos com a Mobilidade Elétrica?
Momento é o de olhar para modelos bem sucedidos no mundo como um norte para construir propostas pensadas por nós e para nós

Por Marcus Regis*
É consenso a necessidade de falarmos sobre a importância de uma melhor mobilidade em nossas cidades. Os argumentos e números estão em toda parte e falam por si. De qualquer forma, sempre me parece apropriado sublinhar a razão maior para que nos lancemos a essa gigantesca – e talvez heróica – tarefa: as pessoas.
Nossas cidades – cada vez mais inchadas, segregadas e caóticas – refletem uma estrutura socioeconômica que tem falhado em alocar oportunidades justamente àqueles que as constroem. Para viver a cidadania com plenitude, precisamos ter acesso mais democrático à vida econômica, cultural e social, muitas vezes concentrada em espaços tão distantes – e não só fisicamente – daqueles em que moramos.
Isso se faz, também, por meio de uma mobilidade pensada por pessoas e para as pessoas. Precisamos de uma mobilidade que leve em conta nossa responsabilidade para com o enfrentamento da crise climática que já nos traz consequências muito palpáveis. Precisamos de uma mobilidade que abra caminhos para a justiça social e o desenvolvimento inclusivo. Precisamos, enfim, de uma mobilidade que nos permita maior qualidade de vida.
É aqui que a mobilidade elétrica se apresenta como uma possibilidade concreta para o Brasil. Não uma mobilidade elétrica meramente copiada de modelos já bem sucedidos em outras partes do mundo, como a Europa e em partes da Ásia, mas uma que use destas experiências para construir propostas pensadas aqui mesmo, por nós e para nós.
Embora aqui falemos claramente de disrupção e inovação tecnológicas, este não é um desafio a ser enfrentado apenas com soluções técnicas.
É neste contexto que a Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica (PNME) reúne mais de 30 instituições do governo, do mercado e da sociedade civil para propor estratégias e medidas concretas para a mobilidade elétrica no Brasil. Na PNME usamos nossa maior fortaleza – a diversidade – para qualificar o debate sobre a mobilidade elétrica e estabelecer cooperações aqui e no exterior para propor uma estratégia nacional que seja não apenas viável e adequada à nossa realidade, mas que leve em conta nossas necessidades de um desenvolvimento econômico, tecnológico, social e ambiental que coloque o Brasil em um lugar no cenário global que esteja à altura de nossas necessidades e responsabilidades.
Não é tarefa fácil: um problema tão complexo não poderá nunca ser resolvido com soluções simplórias. Mas não fazer nada e insistir em um modelo de desenvolvimento que já sabemos funcionar mal custará muito mais.
*Marcus Regis é coordenador de projeto da GIZ e Secretário-geral da Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica